Circuito Penedo de Cinema recebe o cineasta Cristiano Burlan para exibição de ‘Ensaio sobre o fracasso’
Diretor ainda participou de um bate-papo sobre o filme, que abriu a Mostra de Longas-metragens Nacionais, mesclando diversas linguagens e referências artísticas
Na noite desta segunda-feira (22), foi iniciada a Mostra de Longas-metragens Nacionais realizada pelo 11º Circuito Penedo de Cinema. Às margens do Rio São Francisco, “Ensaio sobre o fracasso”, que exibe um passeio extravagante pelo cinema mundial, foi a obra que abriu caminho para os 82 filmes que serão exibidos, on-line e presencialmente, até o domingo (28). O prodigioso cineasta Cristiano Burlan, diretor do longa que traz, em primeiro plano, algumas das figuras mais marcantes da história da sétima arte, participou de um bate-papo na sala de cinema montada no centro histórico da cidade de Penedo.
O público presente na Praça 12 de Abril pôde assistir a uma verdadeira profusão de referências e linguagens artísticas, escolha que Burlan explica: “a desordem e a irregularidade fazem parte da vida”. Seu “Ensaio sobre o fracasso” é atravessado pela vida (e a obra) de um cineasta, interpretado pelo ator André Gatti, que também é cineasta. No entanto, a metalinguagem mais violenta presente no filme talvez se dê com a aparição de outras obras. Cenas dirigidas no passado por Rogério Sganzerla, Jairo Pereira, Zé do Caixão, Jean-Luc Godard, Yasujiro Ozu e Martin Brest também costuram a narrativa poética intrincada do longa.
Em paralelo, diálogos sobre o fazer cinematográfico, nos quais realidade e ficção parecem indissociáveis, surgem na tela, empreendidos por um elenco que tem presença marcante no cinema brasileiro, especialmente o marginal (seja na pesquisa, na produção ou na crítica), como Helena Ignez, Mário Bortolotto, Jean-Claude Bernardet e o próprio Burlan, que declara sua afinidade por explorar o inusitado. “O cinema, antes de mais nada, é uma aventura de linguagem, mas que não se encerra em si”, afirma. “Pra mim”, explica Burlan, “o cinema é um instrumento de precisão para entender o mundo em que a gente vive.”
A outra “personalidade” do cineasta, como ele mesmo nomeia, é a de documentarista, que já pôde mostrar com detalhes em sua extensa filmografia de mais de 30 obras, sobre a qual sabiamente alerta: “Quantidade não é qualidade!”. Em suas palavras, sua face documentarista “parte sempre de uma perspectiva pessoal para falar do outro”. Burlan, porém, demonstra jamais se privar de visitar o inóspito, social e artisticamente falando, como se mantivesse um compromisso ético com as pessoas e o próprio ofício. Para ele, o cinema ainda se encontra preso a conceitos fixos de narração e organização da linguagem, quando não deveria ser entendido como um processo fechado. “O cinema que eu tento”, esclarece, “é uma possibilidade de reinvenção das coisas”.